Biologia Parasitária - IOC

Programa de pós-graduação stricto sensu em biologia parasitária

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29/07/2014

Com resultados positivos no exterior, projeto ‘Eliminar a Dengue’ avança no Brasil

A técnica é inovadora: uma bactéria chamada Wolbachia é utilizada para bloquear a transmissão do vírus da dengue pelo mosquito Aedes aegypti, de forma natural e autossustentável. Os resultados são positivos. Na Austrália, cerca de três anos após a liberação dos ‘Aedes do bem’ nas localidades escolhidas para os testes de campo, os cientistas observaram que quase 100% desses mosquitos continuam infectados com a Wolbachia. Esses foram alguns dos pontos destacados pelo coordenador internacional do programa ‘Eliminate Dengue: Our Challenge’, Scott O’Neill, e pelo coordenador do projeto ‘Eliminar a Dengue: Desafio Brasil’, Luciano Moreira, durante o Seminário Internacional dos Programas de Pós-graduação Stricto sensu em Biologia Parasitária e Biologia Computacional e Sistemas do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), realizado na última sexta-feira, 25 de julho. Presente em cerca de 60% dos insetos no mundo, a Wolbachia é uma bactéria intracelular e não existem evidências de qualquer risco para a saúde humana ou para o ambiente.

De acordo com Scott, o micro-organismo é inserido pelos cientistas em embriões dos insetos, que crescem infectados. As fêmeas destes ‘Aedes do bem’, que não transmitem a dengue, passam a bactéria para sua prole. Assim, ao longo do tempo, a bactéria se dissemina naturalmente entre os mosquitos, que deixam de transmitir a doença. “Estimamos que os Aedes com Wolbachia devem ser liberados no ambiente ao longo de dez a 12 semanas para que a bactéria se dissemine na população de insetos local. Depois disso, não é preciso fazer novas liberações de mosquitos. Esta é uma característica importante do projeto, que contribui para a sua viabilidade econômica. Foi ótimo observar que o resultado previsto no laboratório se reproduziu em campo”, comemorou Scott, se referindo aos resultados positivos obtidos na Austrália.

O coordenador internacional do programa afirmou ainda que a transparência é uma marca do ‘Eliminar a Dengue’ em todos os países onde está sendo desenvolvido. Segundo Scott, na Austrália, as equipes do projeto atuaram por três anos nas localidades escolhidas antes do início dos testes de campo. “Nós nos esforçamos para explicar o que fazemos e para levar em consideração as opiniões das comunidades. A maioria da população sabe que as estratégias atuais não estão conseguindo vencer a dengue e fica feliz ao ver uma nova possibilidade de controlar a doença”, afirmou.

No Brasil, os primeiros testes de campo com a liberação dos mosquitos com Wolbachia devem ocorrer em breve. “Há dois anos, trouxemos insetos com Wolbachia da Austrália e fizemos o cruzamento com Aedes nativos do Brasil, para utilizar no país mosquitos com o perfil genético local. Já estamos na 18ª geração após este cruzamento e os Aedes gerados continuam com a bactéria, o que é muito bom”, adiantou Luciano Moreira, que integra desde o início a equipe que descobriu a capacidade da Wolbachia de bloquear a transmissão do vírus causador da dengue nos mosquitos Aedes aegypti.

Moradores dos bairros de Tubiacanga, Vila Valqueire e Urca, na cidade do Rio de Janeiro, e Jurujuba, em Niterói, recebem, desde 2012, visitas da equipe de Relações com a Comunidade e têm a oportunidade de conhecer o projeto e tirar dúvidas. Em Tubiacanga, uma pesquisa de opinião foi realizada em junho deste ano e mostrou apoio à iniciativa: 88% dos entrevistados se declararam favoráveis à liberação dos insetos com Wolbachia e o apoio ao projeto, em uma escala de zero a dez, foi 9,8.

Scott acrescentou que a liberação dos insetos é uma das etapas mais importantes do projeto e se mostrou satisfeito com os preparativos realizados no Brasil. “A maior parte do trabalho nos últimos dois anos ocorreu nos bastidores, nos laboratórios e nas reuniões com os moradores, mas está se aproximando o momento em que o programa se tornará público e precisamos nos esforçar ainda mais para não haver falhas”, destacou o cientista.

Já Luciano ressaltou o apoio que o projeto recebeu no Brasil. “Esse projeto não avançaria sem o importante apoio recebido das secretarias municipais de Saúde do Rio de Janeiro e de Niterói, do Ministério da Saúde e, principalmente, das comunidades”, reforçou.

Além da Austrália, Vietnã e Indonésia também realizam estudos deste tipo. Brasil e Colômbia se preparam para esta etapa. O programa ‘Eliminar a Dengue: Nosso Desafio’ é uma iniciativa sem fins lucrativos com o fim de oferecer uma alternativa sustentável e de baixo custo às autoridades de saúde das áreas afetadas pela dengue, sem qualquer gasto para a população.

:: Saiba mais sobre o projeto, clique aqui

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