01/03/2018
Lucas Rocha
A identificação e o controle de moluscos considerados pragas e vetores e dos helmintos que podem ser transmitidos por eles contribui para a vigilância de doenças como a esquistossomose. Causado pelo verme Schistosoma mansoni, que tem caramujos do gênero Biomphalaria como hospedeiros intermediários, o agravo pode atingir até 1,5 milhão de pessoas no Brasil, segundo o Ministério da Saúde. Pesquisadores do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) realizaram, entre os dias 19 e 23 de fevereiro, o curso internacional ‘Moluscos vetores e pragas nas Américas: identificação morfo-molecular e controle’. A formação reuniu mais de 30 pesquisadores e estudantes de pós-graduação da área da saúde e agricultura e profissionais especializados no controle de pragas e vetores. A iniciativa recebeu participantes de diferentes regiões do país, incluindo os estados do Rio de Janeiro, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Bahia, Piauí e Paraná. O curso foi promovido pelo Programa de Pós-graduação Stricto sensu em Biologia Parasitária do IOC e coordenado pelas pesquisadoras Silvana Carvalho Thiengo e Suzete Rodrigues Gomes, ambas do Laboratório de Malacologia do IOC.
Atividades práticas reproduziram a rotina de coleta em campo, triagem e identificação dos moluscos em laboratório
Os participantes tiveram a oportunidade de realizar, na prática, toda a rotina de campo relacionada à coleta de moluscos terrestres e aquáticos. Em laboratório, os alunos puderam executar a triagem e identificação dos moluscos e realizar exames parasitológicos. “A coleta permitiu que o aluno identificasse o ambiente e os locais onde os moluscos terrestres e aquáticos podem ser encontrados, incluindo espécies invasoras, potenciais transmissoras de parasitoses e pragas agrícolas, assim como espécies nativas, que precisam ser preservadas”, explicou Suzete.
Renomados especialistas na área de malacologia e parasitologia ministraram palestras sobre a teoria e prática da malacologia médica e aplicada. A pesquisadora Alejandra Rumi, da Universidad de La Plata, na Argentina, abordou a importância dos gastrópodes como hospedeiros intermediários e pragas no país vizinho. Já o engenheiro agrônomo João Lucas Fontana, do Instituto Interamericano de Cooperação Agrícola (IICA), discutiu as estratégias de controle de moluscos pragas em países sul-americanos. A pesquisadora Márcia Chame, coordenadora do Centro de Informação em Saúde Silvestre da Fiocruz, destacou zoonoses emergentes e chamou atenção para os desafios para a saúde humana diante das mudanças climáticas. O malacologista David G. Robinson, do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), em conferência via web, apresentou o sistema em desenvolvimento pelo USDA para a detecção, quarentena, controle e prevenção de entrada de espécies exóticas.
Especialistas brasileiros e estrangeiros apresentaram aspectos diversos sobre a teoria e prática da malacologia médica e aplicada
“Foi um encontro excelente, repleto de palestras de profissionais de excelência e com grande experiência de campo na área da saúde e agricultura. O ambiente voltado para a troca de conhecimento atuou como um motivador para que os alunos apliquem o que aprenderam no retorno às suas atividades”, avaliou Silvana. “Cumprimos os objetivos do curso ao contribuir para a formação profissional e acadêmica dos alunos e motivá-los neste campo de atuação tão carente de profissionais. Tivemos uma resposta muito positiva nesta primeira edição”, complementou Suzete.
De abordagem multidisciplinar, o curso contou, ainda, com aulas ministradas pelos pesquisadores Monica Ammon Fernandez, Elizangela Feitosa da Silva, Arnaldo Maldonado, Otavio Pieri, Silvana Thiengo e Suzete Rodrigues Gomes, do IOC; Lângia Colli Montresor, do Instituto René Rachou (Fiocruz-Minas); Norma Salgado, do Museu Nacional (Universidade Federal do Rio de Janeiro), e Marcos Botton, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (via web).
Fotografia: Josué Damacena
Edição: Vinicius Ferreira