05/10/2020
Maíra Menezes
Com contribuições importantes para o enfrentamento dos surtos de febre amarela e malária registrados nos últimos anos na região Sudeste, a tese do biólogo Filipe Vieira Abreu foi reconhecida com menção honrosa no Prêmio Capes de Tese. O trabalho foi desenvolvido no Programa de Pós-graduação Stricto sensu em Biologia Parasitária do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), sob orientação do pesquisador Ricardo Lourenço de Oliveira, chefe do Laboratório de Mosquitos Transmissores de Hematozoários do IOC.
Em sua 15ª edição, o Prêmio Capes de Tese reconhece anualmente os melhores trabalhos de conclusão de doutorado defendidos em programas de pós-graduação brasileiros, considerando critérios de originalidade e relevância para o desenvolvimento científico, tecnológico, cultural, social e de inovação, além do valor agregado pelo sistema educacional ao estudante. A tese de Filipe foi agraciada na categoria Ciências Biológicas III, que contempla cursos em imunologia, microbiologia e parasitologia.
“Essa premiação coroa a dedicação e o esforço, não apenas meu, mas de muitas pessoas que colaboraram nesse projeto. É o reconhecimento de que o IOC e especialmente o Programa de Pós-graduação em Biologia Parasitária continuam a cumprir sua função de formação de profissionais qualificados e de respostas à sociedade no que tange a saúde pública”, afirmou Filipe, destacando que a pesquisa contou com a cooperação entre diversos laboratórios do IOC, além do Instituto René-Rachou (Fiocruz-Minas), do Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos/Fiocruz) e do Instituto Pasteur, na França.
“A menção honrosa reconhece o IOC como instituição de ensino, pesquisa e desenvolvimento tecnológico que tem a multiplicidade de expertises e preparo, além da estrutura necessária, para dar respostas originais e aplicáveis para problemas de saúde pública”, comentou Ricardo, que ressaltou ainda o empenho do estudante no desenvolvimento do trabalho. “A tese apresenta um conjunto muito grande de informações, incluindo um extenso trabalho de campo, com mamíferos e insetos, taxonomia de primatas e de mosquitos, estatísticas de ecologia e análises de virologia, parasitologia e sorologia. É um estudo que reúne muitas técnicas diferentes e metodologias desenvolvidas ou aprimoradas para responder as perguntas da pesquisa”, apontou o orientador.
Múltiplas contribuições
Ao abordar duas infecções diferentes que emergiram no Rio de Janeiro após décadas sem registros no estado, a tese respondeu perguntas importantes para a saúde pública. O estudo identificou as principais espécies de mosquitos silvestres e de primatas envolvidas na disseminação dos agravos, confirmou a infecção humana por parasitos causadores de malária em macacos, afastou a hipótese de transmissão urbana da febre amarela, traçou as rotas de propagação do vírus amarílico e demonstrou a permanência do patógeno na Mata Atlântica por três estações de transmissão seguidas.
O grande esforço para coleta e análise de amostras – que alcançou 146 macacos e quase 18 mil mosquitos em 44 municípios de cinco estados – permitiu investigar ainda a possibilidade de circulação silvestre do vírus Zika. A análise indicou que este fenômeno, registrado em países da África, ainda não ocorre no Brasil. O trabalho também apresentou inovações metodológicas para a coleta de amostras de primatas e para o diagnóstico da malária, que podem contribuir para a vigilância de zoonoses na Mata Atlântica.
Professor do Instituto Federal do Norte de Minas Gerais (IFNMG), Filipe enfatiza a ampla formação obtida no doutorado e a possibilidade de aplicação do conhecimento em estudos na região em que se localizam algumas das cidades mais pobres do estado mineiro. “Como professor do IFNMG, recebi licença para realizar o doutorado. A instituição e a sociedade investiram em mim. Fico feliz de ter retornado mais capacitado para pesquisas aqui”, pontua o autor da tese, que atualmente orienta estudantes e desenvolve pesquisas sobre febre amarela, tripanossomatideso e plasmódios na região norte de Minas.
Durante a edição 2020 da Semana da Pós-graduação do IOC, realizada de 14 a 18 de setembro, Filipe foi agraciado com o Prêmio IOC de Teses Alexandre Peixoto. Pelo estudo realizado sobre a febre amarela, o biólogo recebeu, no ano passado, o Prêmio Jovem Pesquisador, no 55º Congresso da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical e XXVI Congresso da Sociedade Brasileira de Parasitologia (MedTrop-Parasito 2019). Para saber mais sobre os resultados da tese, clique aqui.
Edição: Vinícius Ferreira